Onde as naus de coberta e os socios eram,
Sempre a chorar por nós. Varado o casco,
Saltamos, e conosco a ovelhum presa,
Que divido irmãmente: a aqueles bravos
Dão-me a parte o carneiro em que livrei-me,430
Eu na praia ao nimbifero Satúrnio
Queimo-lhe as coxas; mas o deus supremo
Enjeita o sacrífio, e delibera
A frota consumir-me e os camaradas.
Até Sol posto, á mesa nos fartamos435
De carne e doce vinho, e escura a noite,
Na areia adormecemos. Vindo a rósea
Aurora matutina, a gente embarco;
Desamarrados, alva espuma torcem
Dos remos ao compasso os marinheiros.440
Dali, da morte isentos; mas tristonhos
Pelos míseros socios navegamos.

 

NOTAS AO LIVRO IX

 

15-34 — O reconhecimento parece tardio, crê-se á primeira vista que devera ser muito antes; mas note-se que Homero no livro VII, como para escapar á objeção, faz Ulysses dizer a Areta que não pode já narrar todas as aventuras, e só responderia ás ultimas perguntas: assim, respeitou Alcino o seu silêncio, até vir a ocasião de saber-se aonde a nau devia conduzi-lo. Esta demora, adaptada á marcha dramática do poema, tenho-a por um belo artificio. — Same é o mais antigo nome de Samos; Ísmara é cidade, assim lhe chama Virgilio, sem confundi-la com o monte, que se diz Ísmaro. — Ulysses, depois de saquear os Cicones, que justamente o escarmentaram, gaba-se da boa repartição da presa: entre os mesmos salteadores há uma espécie de eqüidade, para se poderem manter.

343-361 — Esta passagem tem sido censurada por inverossímil: a saída dos companheiros, cada um no animal do meio e conduzido pelos dous dos lados, compreende-se melhor; mas a de Ulysses num só carneiro, posto que o maior do rebanho, é difícil de conceber, sem embargo das diferentes explicações. Como porém o gigante estava cego e Minerva protegia a Ulysses, pode supor-se que,