Incitar queres, mísero, o selvagem,
Que a nau com novo tiro atraia á borda,
Onde acabar cuidávamos? Se tuges,
Ao perceber-te a voz, com força bruta
Penedo vibrará, que nos esmague390
E este frágil madeiro desconjunte.»

Preces vãs! generoso e inabalavel
Em cólera bradei: «Se o perguntarem,
O olho dirás, vazou-te o arrasa-muros
Ítaco Ulysses, de Laertes nado.»395

Trovejou Polifemo: «Encheu-se o agouro
Ah! de Telemo Eurímides, profeta.
Que envelheceu famoso entre os Cyclopes!
Apagar-se-me a vista ás mãos de Ulysses

Vaticinou-me: um forte e ingente e belo400
Varão sempre cuidei que Ulysses fosse;
Mas, falso embriagando-me, a pupila
Furou-me um pífio imbele e pequenino!
Hospede, eis os presentes, vem tomal-os;
Meu genitor confessa-se Neptuno,405
Rogo-lhe que a viagem te encaminhe.
Seja vontade sua, há de sarar-me;
De outro deus nem mortal socorro espero.»

«Pudesse eu, repliquei-lhe, de alma e vida
Privar-te e remeter-te ao reino imano,410
Como nem mesmo o genitor Neptuno
O olho te sarará.» Súplices palmas
Ele á sidérea abóbada levanta:
«Ó rei Neptuno de cerúlea coma,
Se teu sou na verdade, ó pai, te imploro415
Que seu país não veja o arrasa-muros
Ítaco Ulysses, de Laertes nado;
Ou, se é fatal que á patria amiga torne,
Só de toda a campanha, em vaso alheio,
Tardio aporte, e em casa encontre penas.»420

Seu rogo ouvido foi. Lasca outro pico
Muito maior, que expede volteando
Com sumo esforço: desta vez o leme
Quase alcança, e nos molha a erguida brenha;
Mas surde a proa azul, e a ilha toca425