Minha, filha de Antolico, Anticléia,
Que ao ir-me a Tróia a luz inda gozava,
Vedo, a gemer com dor, que loque o sangue
Primeiro que Tirésias. De áureo cetro,
A alma aparece do Tebano cego,70
Reconheceu-me: «Ao claro Sol fugindo,
Ai! vens a estância visitar funesta?
Pois da cova te arreda e o gume esconde,
Para que eu beba o sangue e profetize.»

Dês que embainho a espada claviargêntea,75
Bebe o vate ymphalível e começa:
«O mel da volta, nobre Ulysses, buscas?
Neptuno irado, a quem cegaste o filho
To embarga. A seu pesar, tens de alcançal-o,
A seres comedido e os companheiros,80
Do atro pego arribados á Trinácria,
Onde achareis pastando bois e ovelhas
Do Sol, que tudo vê, que exouve tudo:
Ileso o gado, a custo ireis á patria;
Ofendido, ao navio agouro a perda,85
E a te salvares, tornarás tardeiro,
Só dos consocios teus, em vaso estranho.
Depararás no interno uns prepotentes,
Que estragam-te a fazenda, e requestando
A diva esposa tua, a presenteiam;90
Mas, por tamanha audácia, a bronze agudo
Ás claras ou por dolo hás de puni-los.
Depois toma ágil remo, a povos anda
Que o mar ignoram, nem com sal temperam,
Que amuradas puníceas não conhecem,95
Nem remos, asas de baixéis velozes.
Guarda o sinal: assim que um viandante
Pá creia o remo ser que ao ombro tenhas,
Finca-o no chão; carneiro e touro imoles,
Varrão que inça a pocilga, ao rei Neptuno;100
Em Ithaca, aos celícolas por ordem
Hecatombes completas sacrifiques
Ali do mar vir-te-á mais lenta a morte,
Feliz velho, entre gentes venturosas.
Preenchidos serão meus vaticinios.»105

«Tirésias, prossegui,