tal é meu fado.
Lá, do sangue remota, olhar seu filho
Nem ousa tácita a materna imagem:
Como há de perceber-me, ó rei, me ensina.»
E ele: «É simples: sincero, a quem permittas110
Provar do sangue, falará; contidos,
Os mais recuarão». Nisto, o profeta
Pela estância Plutônia esvaeceu-se.

Aguardei minha mãe, que o negro sangue
Beber veio, e bradou-me lamentosa:115
«Que! filho meu, chegaste á escura treva!
É difícil aos vivos, entre enormes
E válidas correntes; nau compacta
Há mister o Oceano invadeavel.
De Ílio, há muito errabundo, os socios trazes?120
Ithaca inda não viste, a esposa tua?»

«Ah! minha mãe, respondo, urgiu-me a sorte
A vir ao Orco interrogar Tirésias.
Não fui á nossa terra, ou mesmo á Grécia;
Desde essa expedição, vagueio aflito.125
Conta-me, adormeceste em sono eterno
Por doença aturada, ou pelas doces
Farpas da sagitífera Diana?
Conta-me de meu pai; se o caro herdeiro
Dos meus haveres goza, ou tem-nos outrem,130
E cuidam que não volto. A esposa minha
Mora com nosso filho, os bens zelando,
Ou já foi por um grande conduzida?»

E a veneranda mãe: «Constante em casa,
Dia e noite suspira atribulada.135
Ninguém dos teus domínios apossou-se;
Lavra-os Telemacho, e a festins o atraem
Próprios de quem justiça aos povos rende.
Só teu pai, da cidade sempre fora,
Sem macios colchões, tapetes, mantas,140
Como os escravos, deita-se de inverno
Ao pé da cinza, veste humildes roupas;
De outono e de verão, na fértil vinha,
Em cama dorme de caídas folhas;
Por ti chora, e é dos anos molestado,145