Em contínua tristeza. Tal finei-me,
Não da frecheira deusa a tiros brandos,
Não de mal que definha e roi a vida,
Mas de dor, meu bom filho; a tua ausencia
E as lembranças de ti me sepultaram.»150

Três vezes ao materno simulacro
Fui me abraçar, três vezes dissipou-se
Igual ao vento leve ao sono alado.
Mágoa pungiu-me acerba: «A meus desejos
Te esquivas, minha mãe? ao colo os braços,155
Ambos nos deleitássemos de pranto
Pela casa Plutônia! És vácuo espectro,
Pela augusta Prosérpina enviado
Para agravar meus ais? — «Não, contestou-me,
Filho amado, oh! misérrimo dos homens,160
Não te engana a de Júpiter progênie;
É nossa condição depois da morte:
Os nervos carnes e ossos não mais ligam,
A fogueira os consome irresistível;
Tanto que a vida os órgãos desampara,165
A alma como visão remonta e voa.
Quanto antes volve á luz, e tudo aprendas
Para á casta Penélope o narrares.»

Durante a nossa prática, incitadas
Pela ínclita Prosérpina, se apinham170
De heróis muitas ou filhas ou mulheres:
A fim de uma por uma interrogá-las,
Sacar prefiro o gume dante o fêmur,
Para juntas o sangue não beberem;
Todas á espera, a cada qual pergunto,175
E ia-me de seus casos informando.

Tiro primeira vi, que se aclamava
Do temerário Salmoneu vergôntea,
E de Creteu Eólides consorte.
Amorosa do fresco Enipeu divo,180
Da pulcra veia á borda se entretinha:
Disfarçado no rio verticoso,
Á foz se encosta o Ennosigeu, cambiante
Curvo aqueu monte empina, que em seu grêmio
Sorve a mortal e o nume; o cinto á virgem185