A alva Areta o quebranta: «Em forma e talhe
Que vos parece tal varão, Feaces,
E em mente sã? Bem que hospede meu seja,
Da honra participais: daqui não parta,
Sem dons lhe prodigardes na indigencia,270
Pois tendes muito por mercê divina.»

Equeneu ponderou, maior na idade:
«Obedecei-lhe, amigos, não sem tento
Exprimiu-se a rainha; o exemplo e as ordens
Manem de Alcino.» E Alcino: «Enquanto reja275
A marítima gente, igual aviso
O meu será. Comprime a impaciencia,
Té que, hospede, amanheça e os dons colhamos
Da tua volta os nossos curam todos,
E eu mais, cujo poder no povo estriba.»280

Logo o astuto: «Em preparos da viagem
Com magníficos dons, ó rei possante,
Se um ano me entretens, um ano fico:
De mãos cheias á patria ir me aproveita,
Para ser venerado e mais querido.»285

O rei continuou: «Prudente Ulysses,
Quem atentar em ti, não pode crer-te
Impostor, quais a terra esparsos nutre
A decantar mentiras sem contraste:
Sisudo e simples, como um vate narras290
A história dos Aqueus e os lances próprios.
Viste algum bravo socio em Tróia extinto?
Cedo é para dormir, a noite é longa:
Se a tua dor consente o prosseguires,
A alvorada me encontre a ouvir teus casos.»295

Ulysses prosseguiu: «Preclaro amigo,
Horas há de falar e horas de sono;
Mas, se o levas em gosto, não recuso
Dos meus contar-te os lutos e infortúnios,
E dos que, livres da cruenta guerra,300
Na patria sucumbiram pela infâmia
De uma falsa mulher. — Disperso tendo
Prosérpina os femíneos simulacros,
O de Agamemnon surge, e os dos que Egistho
Com elle assassinou. Bebido o sangue,305