Braços me estende, em lágrimas a pares;
O alento lhe falece, que era dantes
Em seus membros flexíveis, e eu carpindo
Lhe brado condoído: «Ó glorioso
Rei dos reis, como houveste o fatal golpe?310
Domou-te o azul tirano em tempestade?
Ou mãos hostis em terra, ao dcpredares
Armentio e rebanho? ou defendo
O patrio muro e a honra das famílias?»

«Divo e sábio Laércio, respondeu-me,315
Não me domou Neptuno em tempestade,
Nem mãos hostis em terra: Egistho á casa,
Com minha atroz consorte conluiado,
Atraiu-me, e no meio de um banquete,
Como a rês no presepe, derribou-me;320
E estes socios comigo estrangularam,
Quais porcos de um ricaço destinados
A função por escote ou bródio ou núpcias.
Estiveste em conflitos e carnagens,
Mas por tão feio horror nunca choraste:325
Cratera e mesas e comer e sangue
Mistos rolam; no chão pungentes gritos
Soam-me de Cassandra Priaméia,
Que ante mim trucidava Clitemnestra;
Soergo-me, e inda busco moribundo330
Pegar do alfange; aparta-se a impudente,
Nem quis, no instante que eu baixava a Dite
Cerrar-me os olhos e compor-me os lábios.
Nada há mais sevo que a mulher indigna
Capaz de conceber tamanhos crimes.335
A que esposei donzela assim tratou-me:
Crua morte me urdiu, quando eu pensava
Prazer vir dar a fâmulos e a filhos.
Torpemente manchou-se, e tanta infâmia
Tem as mais virtuosas deslustrado.»340

«Hui! de Atreu contra a raça, exclamo, é fado
Que a Jove irritem feminis conselhos:
De tantos funerais foi causa Helena;
Traições tramou-te ausente Clitemnestra.»

E ele: «Austero á mulher nunca fraquejes;345