Ah! nunca me coubera essa vitória,
Que o herói tumulou dos Gregos todos
O mais formoso e bravo, exceto Aquiles!
Meigo lhe imploro: «Exímio Telamonio,
Nem morto esqueces a fatal porfia,430
Celeste punição da gente Argiva!
Da patria ó fortaleza, o luto nosso
Não foi maior quando morreu Pelides.
A culpa é só de Júpiter, que os Dânaos
Abomina e te impôs tão dura sorte435
Chega-te, ouve-me, ó rei, teu ódio aplaca,
No ânimo generoso me perdoa.»

Não deu palavra, e tácito ia andando
No Érebo a esconder-se. Inda que torvo,
Me falara por fim; mas outras sombras440
Examinar o peito me pedia.

Minos, gérmen Dial, tendo áureo cetro,
Sentado o avisto a conhecer dos mortos,
Que, esparsos no Orco, se erguem por seu turno,
Dizem do seu direito. Órion avisto,445
Por várzeas de gamões a acossar feras
Que vivente abatera em montes ermos,
De érea clava na mão. — Eis Ticio, aluno
Da gloriosa Terra, que estendia-se
Por jeiras nove, e abutres, sem podê-los450
Despregar, ás entranhas aferrados,
Lhe estão roendo o fígado, em castigo
Da tentada violencia á do Tonante
Casta esposa Latona, indo ela a Pito
Pelas do Panopeu ridentes margens.455

Vi Tântalo também, num lago imenso
Que o mento lhe banhava, ardendo em sede.
Pois, a apagá-la se perdia o velho,
A água absorta escoando-se, um demonio
Aos pés seco atro lodo lhe mostrava.460
Sobre a cabeça corpulentos galhos
Suspendiam-se frutas sazonadas,
Figos doces, romãs, pêras e olivas;
Mas, se o velho faminto ia colhê-las,
O vento as levantava ás densas nuvens.465