Quando os consocios, desuntada a cera,
Desamarram-me enfim. Remota a ilha,
Vejo em fumo e escarcéos, um ruído escuto;
Ao marinho rumor, de susto as vogas
Largaram de repente, a nau parou.150
De banco em banco, afavel os conforto:
«Provado, amigos, temos outros males;
Este não é maior que o da caverna
Do violento Cyclope; recordai-vos
Que o venceu meu denodo, engenho e tino;155
Ânimo! obediencia; altas maretas
Curvados açoutai. Permita Jove
Que do passe escapemos! Tu, piloto,
Pois meneias o leme, não te olvides:
Fora daquele fervedouro e fumo160
Orça, o escolho fronteiro não te assalte;
Se discrepas incauto, a morte é certa.»

Rendem-se ás minhas ordens. Só de Cila
Não menciono o perigo inelutavel,
Temendo que eles, de remar cessando,165
Se agachassem no fundo. Eu mesmo esqueço
De Circe avisos; arnesado, empunho
Piques dous, e ao bailéo da proa corro
Para enxergar primeiro o pétreo monstro
Pernicioso aos meus: não pude, os olhos170
Se bem cansasse em torno da atra rocha.
Pelo estreito gementes navegamos:
Cila é daqui; dalém, Caríbdis seva
Os salsos goles chupa: ao vomital-os,
Ferve a chiar como a caldeira ao fogo,175
Sobe o rocio e borrifa os cimos ambos;
Ao sorvê-los, parece remexer-se,
Toa horrorosa a penha, e em baixo a terra
Mostra areia cerúlea. Amarelecem
E, estando nela o exicio afigurado,180
Cila é que me arrebata uns seis guerreiros
De esforço e brio: olhando para os bancos,
Pernas lhes vejo e braços pelos ares;
Na agonia final por mim bramavam.
Qual de alto o pescador, por um caniço185
Lançando em chifres