Os extensos caminhos, os penedos,
As verdejantes árvores; desperto,
Olha em cerco, de palmas fere as ancas,
E lamenta e se carpe: «Ah! nestas plagas
Gente bárbara mora injusta e fera,150
Ou pia e hospitaleira? onde é que vago?
Onde esconder os meus tesouros posso?
Estivesse na Esquéria, e me asilara
Outro brioso rei, que boa escolta
Me daria ao trajeto. Ignoro o meio155
De guardar estes bens, que não mos roubem.
Certo nem eram probos nem cientes
Os que a Ithaca amiga prometeram
Levar-me a salvo e aqui me depuseram:
Desagrava-me, ó Júpiter, que amparas160
Os suplicantes e a traição condenas.
Mas compute-se tudo, examinemos
Se eles de qualquer dom me desfalcaram.»

Já trípodes, bacias e ouro conta,
Conta os belos tecidos: nada falta.165
Por Ithaca elle chama, Ithaca chora
Pelas praias do mar circunsonante,
Quando no vulto lhe aparece Palas
De um jovem ovelheiro, delicado
Como os filhos dos reis: pelico airoso170
Aos ombros traça; aos pés chapins luzentes,
Floreia um dardo. Ulysses a encontrá-la
Corre contente, rápido profere:
«Pois me ocorres primeiro, amigo, salve!
Guarda-me estas riquezas e a mim próprio.175
Como a nume to imploro de joelhos;
Declara-me que terra e povo é este:
Por acaso ilha amena, ou de gleboso
Continente um bojante promontório?»

A Olhicerúlea: «És, hospede, insensato,180
Ou de país remoto. Que perguntas?
É conhecido o nosso dos que habitam
Para o noturno ocaso e a roxa aurora:
Alpestre e avesso a poldros, pouco vasto,
Viceja em trigo e vinha, que fecunda185