Sumir-te a loura coma, em despiciendos
Andrajos envolver-te, e aos vivos olhos
O brilho embaciar, para que a todos,
Mesmo a filho e mulher, pareças torpe.
Tu, busca o teu porqueiro, amigo vero,310
Que a Telemacho e á mãe fiel tem sido;
Entre os marrões o encontrarás, da penha
Do Corvo em torno e da Aretusa fonte,
Onde, cevados com macia glande
E água lodosa, gordurentos viçam:315
Indaga dele o mais, enquanto a Esparta
Ando-me em formosuras afamada,
A teu filho chamar, que novas tuas
Foi recolher de Menelau na corte.»

«Por que, argúi o herói, pois tudo sabes,320
Não lho disseste? queres que erradio
Pelo indômito pelago padeça,
E que outros a substância lhe consumam?»

Minerva retorquiu: «Não te inquietes;
Eu mesma o encaminhei; porque destarte325
Bem reputado seja: ora em seguro
Se acha do Atrida na abundante casa.
Almejando matal-o antes que aborde,
Armam-lhe os procos numa nau ciladas;
Mas tenho que primeiro a terra oprima330
Alguns dos que a substância lhe consomem.»

Aqui, de vara o toca: a pele toda
Se lhe encarquilha, escalva-se a cabeça,
Olhos murcha; um decrépito afigura.
Deita-lhe um mau gabão, túnica em tiras335
Suja e tisnada, e espólio nu de corça;
Dá-lhe um bordão, com torsos loros preso
Roto a lugares desmarcado alforje.
Isto enchido, apartaram-se, e Minerva
Endereçou-se á grã Lacedemônia.340

 

NOTAS AO LIVRO XIII

 

35-36 — Interpretam este lugar assim: «Os deuses vos ornem de todas as virtudes e vos livrem das calamidades públicas». O pensamento é mais digno da sabedoria de Ulysses; com o texto á vista,