Mas, com malvado arbítrio, ao largo a gente,
Maquinando afundir-me em servil dia,
Despojam-me, e o que vês grosseiro trapo
Vestem-me e este gabão. Na tarde abordam,
Prendem-me á toste com torcida corda,270
Saltam para cear na praia amena:
Fácil os mesmos deuses me desatam;
Á cabeça o capuz, do leme ao fio
N’água deslizo, a braços remo e nado;
Inadvertido escapo, terra tomo,275
De flório carvalhal me estiro á copa.
A suspirar procuram-me, e cansados
Vogam de novo: o Céo, pois meu destino
Inda é viver, manteve-me escondido,
E a benfazejo teto encaminhou-me.»280

E Eumeu: «Tal vaguear, tanto infortúnio,
Me abalou. Só de Ulysses nada creio:
Homem cordato, como assim mentiste?
Balda esperança! Em Tróia o Céo vedou-lhe
Morte egregia ou nos braços dos amigos:285
Honrara ao filho o túmulo exalçado,
E as harpias inglório o têm roído!
Solitário entre os porcos, só me movo
Da prudente Penélope ao chamado,
Quando há qualquer noticia. Os que a ladeiam,290
Ou chorem meu senhor ou se comprazam
De gastar-lhe a fazenda, me interrogam:
Nada investigo, dês que um vago Etólio,
Neste alvergue hospedado por homizio,
Jurou que o viu na regia, estando em Creta295
As naus a reparar de uma tormenta:
Que no estio ou no outono aqui seria
Com imensa fortuna e os divos socios.
E tu, velho infeliz, que o deus me envia,
Não penses me agradar com tais embustes:300
Não te honrarei nem te amarei por eles,
Sim porque temo a Jove e hei de ti mágoa.»

Ulysses replicou: «Nem juramentos
Vencem-te a pertinácia! Ante os Supremos,
Sacro ajuste se firme: a vir teu amo,305