Segundo os meus desejos, me transportes,
Com manto novo e túnica, a Dulíquio;
Senão, de alto os ajudas me despenhem,
Para que outro mendigo não te engane.»

Logo o pastor: «Minha virtude e fama310
Agora e no porvir se manchariam.
Como! a vida arrancar-te, neste asilo
Depois de te acolher! Ao grã Tonante
Nunca mais suplicar me atreveria.
Hora é de ceia, e os socios cá não tardam,315
Para mais abundante a prepararmos.»

Chegam nisto os serventes, e as manadas
A pernoitar encerram nos chiqueiros,
Que ressoam de roncos e grunhidos.
Insta-os o maioral: «Trazei-me um porco320
Ótimo, que, immolado ao peregrino,
Regale-nos também, já que albidentes
Animais com fadiga pastoramos
E outros sem trabalhar impune os comem.»

Eis racha a bronze a lenha, e ao lar presentam325
Um quinquene cevado. Não se esquece
Dos imortaes; raspa da nuca o pêlo,
Queima em primicias, do amo a volta implora.
Um troço de carvalho não fendido
Na rês descarga; sangram-na, chamuscam,330
Desentranham, dividem; na gordura
Eumeu porções do corpo todo envolve
E ao fogo os põe de farro apolvilhadas;
As postas a preceito assam de espeto;
E, do brasido á mesa vindo as carnes,335
Alçado o justo Eumeu, conforme ao rito,
Forma sete quinhões: um vota ás nymphas
E ao que nasceu de Maia, e os mais reparte
A cada comensal; o dorso inteiro
Do albidente por honra a Ulysses coube,340
Que em júbilo exclamou: «Dileto a Jove
Tanto fosses, Eumeu, quanto me és caro.
Tu que nesta miséria assim me tratas!»

«Do que há, disse o pastor, come a teu gosto
O deus, hospede egrégio, os bens outorga,345