Do Argentiarquivo e Febe asseteados.
Lá, nas duas cidades, o Ormênides
Ctésio meu divo pai reinava, quando
Chatins Fenicios dobres a abordaram,
Onusta a nau de industres bagatelas.310
De casa esses velhacos seduziram
Feniça esbelta e linda, em obras destra:
Lavava, e um deles, junto á nau gozando-a,
A embriagou de amores e caricias,
Que á mulher mais honesta o juizo enturvam.315
Rogado a moça, declarou quem era
E o paço meu paterno: — Ser blasono
Da erífera Sidônia, do opulento
Aribas filha; Táfios me roubaram
Ao vir do campo, a Ctésio me venderam,320
Que lhes pagou por mim preço avultado. —

«O amante acrescentou: — Pois vem conosco;
Verás teus pais, que o nome têm de ricos,
Em seu alto palacio. — Isso eu faria,
Prosseguiu, se a meus pais restituir-me325
Salva jurásseis todos. — Eles juram,
E a moça: — Nunca mais, em fonte ou rua,
Nenhum de vós me fale; que, se o velho
O suspeita, em prisões há de lançar-me
E urdir a morte vossa. Eia, segredo;330
Completo o vosso escambo e a carga dentro,
Avisai-me com tempo: quanto pilhe,
Ouro trarei. Mor frete oh! se eu vos desse!
Nas casas do senhor penso um menino
Travesso e andejo; á nau guial-o posso:335
Com elle alcançareis copioso lucro,
Se for mercado ao longe. — Disse e foi-se.

«Um ano inteiro a traficar despendem;
E, abarrotada a nau de veniagas,
De meu pai veio ao paço um núncio esperto340
Com brilhante colar de electro e ouro
Que remirando minha mãe e as servas
De mão em mão passavam: justo o preço,
O sinal faz á escrava e se retira.
Ela trava de mim, sai fora; encontra345