Nas mesas ao vestíbulo a baixela,
Que de meu pai servira aos convidados,
Para o conselho popular partidos;
No seio três esconde copos de ouro:
Com pueril descuido a vou seguindo.350
Cedia o Sol á treva: ao porto fomos,
Onde o navio estava, pressurosos;
Embarcados, soprando amigo Jove,
Fendemos logo as úmidas campinas.
Seis dias e seis noites navegamos:355
Subitamente, á sétima jornada,
Como gaivota, a péssima Feniça,
Aos golpes tomba da frecheira deusa
No bojo do navio, em pasto aos focas
E aos peixes foi dos cúmplices entregue,360
Eu triste fico e só. Do mar e vento
Aqui trazido, me comprou Laertes:
Ithaca assim de então meus olhos viram:»

«Eumeu, responde o herói, tocou-me n’alma
A simples narração das mágoas tuas!365
Mas Jove misturou-te os bens e os males;
Depois desse revés, entraste em casa
Benévola, onde a vida se te escoa
Sem fome e dissabor: de praia em praia
Errante chego, da pousada incerto!»370
Finda a conversação, dormiram pouco;
Veio em breve luzindo a roxa aurora.

A vela os de Telemacho arriando,
O mastro abaixam, para o porto vogam,
Amaram, saltam. Já na areia almoçam;375
E, saciada a fome e ardente sede,
Ergue o príncipe a voz: «Para a cidade
Remai; que eu vou-me aos campos e pastios,
Á tarde, assim que os vir, serei convosco,
E em prêmio desta rota, na alvorada380
Almo havereis convívio e doce vinho.»

«E eu, reclamou Teoclímeno vate,
Onde irei filho? á casa de um magnata
Que em Ithaca domine, ou da mãe tua?»
Prudente o moço: «A nossa eu te indicara,385