85 — Anêmustõ epi ergõ, M. Giguet traduz assim: pour une entreprise qui ne s’accomplira pas. Este modo de falar indicaria em Ulysses uma confiança no futuro, não própria da sua habitual cautela. Sou com Pindemonte, que interpreta: indarno e senza fine o frutto.

89-91 — Rochefort, louvando este lugar, afirma que a repetição de mounon, que significa só, ne saurait guère passer dans une traduction. E não se limita á sua lingua, decide logo de todas, como se elle as tivesse examinado: é defeito de não poucos tradutores franceses, quando não acertam com frase que bem traslade o original afirmar que nenhuma outra lingua o pode conseguir. Ora, se Homero não oferecesse outras dificuldades, a que nota Rochefort não embaraçara nem embaçaria a tradutor nenhum: Pindemonte verteu a repetição do mounon, eu também o fiz; e qualquer francês, querendo, o pode fazer, pois que a sua lingua a isto se presta otimamente.

136 — Desta passagem vê-se que Ulysses era trigueiro e de barba negra: o adjetivo melagchroiês refere-se á tez; kuaneai refere-se á barba, que, se é negra e feita, azul parece. Em um dos livros antecedentes, se diz que Ulysses tinha os cabelos da cabeça louros, o que não é contradição, pois há muitos homens de barba negra e de coma alourada ou mesmo loura. Combinado porém tudo que vem neste poema, antes se deve pensar que Ulysses tinha os cabelos da cabeça da cor dos que dizemos castanhos.

167-169 — Belissima comparação: os dous heróis a chorar, principalmente Ulysses, a quem o poeta chama tantas vezes o destruidor de cidades, eram como águias ou abutres a grasnar pelos filhos perdidos. Por esta ocasião, Rochefort lembra a imitação de Virgilio na Geórgica, principiada por aquele verso nunca excedido: «Qualis populea moerens Philomela sub umbra.» Acrescenta porém: «Je ne pense pas, comme Pope, que Virgile ait judicieusement substitué le rossignol á 1’aigle. Le rossignol, que chante toujours au commencement du printemps, ne forme pas de sons plus touchants lorqu’on 1ui a enlevé ses petits, que lorqu’on a respecté son nid; au lieu que 1’aigle, ou 1’autour, passait, réellement, chez les Anciens, pour déplorer amèrement la perte de ses petits lorsqu’on les lui enlevait; et c’etait peut-être pour cette raison que dans les hiéroglyphes Eypiens, l’autour representait la douleur. Ainsi, il y a ici dans Virgile une faute contre l’imitation exacte de la Nature, et en voulant embellir Homère, il s’est écarté de la verité». Antes de combater essa opinião, direi que Rochefort sem dúvida era habilissimo em distinguir os diferentes sons das aves, e que, a ter vivido na antiguidade, fora talvez um excelente adivinho. Donde tirou elle que o rouxinol, cujo canto é variadissimo, não tenha sons mais ternos e maviosos para carpir os filhinhos perdidos? em que observações funda a sua sentença? Não há naturalista que tal assevere: ao contrário, não é de crer-se que o rouxinol seja uma exceção, quando os animais, ao menos os que têm sido observados, usam de sons diversos em diversas ocasiões. Já Lucrécio o havia notado a respeito dos cães; e é indubitavel que o naturalista Virgilio com pleno conhecimento da matéria adotou a mudança. Homero com razão compara