E questiona o pastor: «Um cão tão belo
Pasmo que esteja, Eumeu, nesse monturo;
Talvez, com tanto garbo, ágil não fosse,
E á mesa por formoso é que o tratavam.»

«É do herói, dis Eumeu, roubado á patria!230
Pasmaras sim, ligeiro e forte e guapo
Se fosse qual no tempo era de Ulysses:
O animal dele visto, ou rastejado,
Não lhe escapava em brenha ou fundo vale.
Morto meu amo, enfermo e débil Argos,235
Negligentes mulheres nunca o pensam:
Do senhor quando a voz não soa, escravos
Furtam-se a obrigações. O Altitonante
Metade anula da virtude ao homem
Que a triste luz da servidão respira.»240

Argos nesse momento, após vinte anos
Seu dono a contemplar, morreu de gosto.
Eumeu vai-se direito aos feros procos;
No atravessar, Telemacho lhe acena;
Ele, em circuito olhando, um banco puxa,245
O do trinchante cozinheiro, e em face
Do príncipe repousa. O arauto á mesa
Traz-lhe pão do açafate e o seu conduto.

Curvo ao bastão se arrima e surde Ulysses,
Como um rafado esquálido mendigo;250
Dentro ao fraxíneo limiar descansa
No umbral cuprésseo encosta-se, que destro
Esquadrara e polira um carpinteiro.
Sólido um pão Telemacho tomando,
E nas mãos quanta carne lhe cabia:255
«Do hospede, Eumeu, lhe disse, o quinhão leves;
Ele esmole depois da sala em torno:
A vergonha a pedintes é nociva.»

Do hospede Eumeu de pronto se aproxima:
«Este quinhão Telemacho te manda;260
Quer pelos circunstantes que mendigues:
A vergonha a pedintes é nociva.»
Sem demora o prudente: «O rei Satúrnio
A Telemacho adite, e lhe conceda
O que tem no desejo!» —Aceita Ulysses265
A mãos ambas