os dons, que aos pés coloca
Sobre o indecente alforje; enquanto come,
Fêmio divino á cítara cantava.

Cessa a música, e os procos tumultuam.
Ao Laércio apropinqua-se Minerva,270
A exortal-o a pedir aos pretendentes,
A conhecer qual duro ou justo fosse,
Bem que a nenhum exima do castigo.
A mão pela direita ia estendendo,
Como vero mendigo; os mais piedosos275
Dão-lhe, quem era atônitos indagam.
Melanto os interrompe: «Ó da rainha
Dignos amantes, eu não sei quem seja,
Bem que visse o porqueiro a dirigi-lo.»

Minaz Antino contra Eumeu dispara:280
«Aqui, pastor famoso, o endereçaste?
Os desmancha-prazeres já não bastam
Que esta cidade infestam? poucos julgas
E á mesa de teu amo esse outro queres?»

Tu retorquiste, Eumeu: «Bom és, Antino,285
E não discorres bem. Que homem convida
Vindiço algum sem préstimo e sem arte?
Um médico, um profeta, um marceneiro,
Um deleitoso músico divino,
Estes granjeia e atrai a imensa terra;290
Mas ninguém chama um comedor inútil.
Aos servos és de Ulysses o mais duro,
Mormente a mim: que importa? eu nada temo,
Enquanto aqui Penélope sisuda
E o divinal Telemacho viverem.»295

Telemacho ajuntou: «Cala, és sobejo
Em responder. Com chascos sempre irrita,
Provocando a imital-o os companheiros.»
E então virou-se: «Antino, como o filho
Me governas, meu hospede enxotando:300
Um nume o não permitta. A mal não tenho,
Amo á larga lhe dês; perde o receio
De minha mãe, dos servos desta casa.
Mas um tal pensamento nem te ocorre:
Comer sem repartir é teu cuidado.»305