A quem quer pedirás de porta em porta.»

«Nua a verdade, Eumeu, responde Ulysses ,
Vou revelar á comedida Icária:
Dele sei tudo, e padecemos juntos.
Receio o ruim tropel dos pretendentes,430
Cuja violencia o férreo céo penetra:
Um com cego furor, pouco há, vibrou-me
Golpe que me doeu; nenhum dos outros,
Nem Telemacho, obstou. Portanto, amoestes
A conter-se a rainha até Sol posto;435
Ao depois, do marido me interrogue,
Sentada ao lar: primeiro eu supliquei-te;
Rotas as vestes, bem conheces, tenho.»

Volta o pastor, e ao limiar Penélope:
«Que é dele, Eumeu? que pensa? há de alguém medo,440
Ou da casa vergonha? Ai do pedinte
Mui fácil em vexar-se!» — E Eumeu: «Rainha,
Falou como o fizera o de mais tino,
Os prepotentes príncipes receia;
Roga-te paciencia até Sol posto.445
Conversardes a sós é preferível.»
Penélope acudiu: «Quem quer que seja,
Lerdo não é. Convenho tais perfídias
Nunca os maiores monstros intentaram.»

O divino pastor, isto acabado,450
Aos demais se reúne, e a fronte inclina
Em voz baixa a Telemacho advertindo:
«Ó dileto a cuidar me vou dos porcos,
Dos teus bens e dos meus. Tem cobro em tudo,
E vigia-te e guarda: o mal projetam455
Ímpios, a quem primeiro o Céo castigue!»

«Sim, pai, torna o mancebo acautelado.
Anda, merenda, a noite não te apanhe;
De manhã traze as reses do costume.
O mais fica a meu cargo e dos Supremos.»460

Senta-se Eumeu de novo, e bebe e come,
Do recinto saindo, a casa deixa
Plena de comensais, que, ao vir a tarde,
A dançar e a cantar se divertiam.