Ceava o herói; na câmara entre as servas
Desabafa Penélope, e chamado,
Ao bom pastor ordena: «Eumeu divino,
Aqui venha teu hospede informar-me,
Pois ter parece errado pelo mundo,390
Se viu, se há novas do sofrido Ulysses.»

A quem Eumeu: «Deixassem-te, ó rainha,
Os Aquivos silentes escutal-o,
Para no imo folgares! De um navio
Em meu teto abrigou-se, e por três noites395
E três dias narrou seus infortúnios,
Se todos memorar. Quando um poeta
Canta inspirado e cessa o doce canto,
Que o repita anelamos: tal na choça
Me aconteceu. Inculca-se de Ulysses,400
Paterno amigo, da Minóia Creta;
Que veio cá ludíbrio da fortuna;
Que dos Tesprotes soube que opulento
Já teu marido á patria se encaminha.»

«Pois tudo me refira, insta a senhora.405
Eles ao pórtico e na sala jogam;
Porque poupam seus víveres, a servos
Só nutrindo, e em banquetes nesta casa
Diariamente á grande nos consomem
Cabras e ovelhas, bois e ardente vinho.410
Falta varão que ensine esses intrusos;
Ulysses nos ressurja, e incontinenti
Punirá com seu filho audácia tanta.»

Nisto, espirra Telemacho, estrondando
Em redor; a mãe solta uma risada:415
«Vai pelo hospede, Eumeu. Sentiste agora
O espirro de meu filho ás vozes minhas?
É que ymphalível morte os cerca todos.
Se o teu mendigo, na memória o imprimas
Falar verdade, espere bons vestidos.»420

Apressou-se o pastor: «Hospede padre,
Quer-te a mãe de Telemacho sisuda
Inquirir do marido, angustiada.
Sê franco, e a roupa ganharás precisa,
Capa e túnica: o pão, que mate a fome,425