Onde é das Ilitias, a espelunca.
Apenas salvo, a Idomeneu procura,
Que hospedes seu dizia venerando;
Mas este era partido em naus rostadas,
Uns onze sóis talvez. Do porto a Ulysses150
Escoltei mesmo, e na abundante casa
Amigo o recebi. Do povo obtidos,
Bois, pães e vinhos dei, por doze dias
Os seus provi de tudo, porque o Bóreas,
De um sevo deus movido, não deixava155
Em pé ter-se ninguém; mas no trezeno,
Calmado o vento, o pano desferiram.»

Assim fingia verossímeis contos,
E ela a chorar de ouví-lo definhava:
Qual, por Zéfiro a neve amolecida,160
Liquesce do Euro ao sopro em celsos cumes,
Desata-se em arroios e incha os rios;
Tal inundava as rubicundas faces,
Anelando o marido ali sentado.
Compunge a Ulysses da consorte o pranto;165
Mas, como ou ferro ou corno, firme e seco,
Por não trair-se, as pálpebras continha.

De lágrimas saciada, continua:
«Quero, hospede, sondar se na verdade
A Ulysses recolheste: qual seu trajo,170
Qual seu porte, quais eram seus guerreiros?»

O marido prossegue: «Árduo é, senhora,
Indo em vinte anos que saiu de Creta,
Exato ser; mas ouve o que me lembra.
De áureo firmal e duplo anel, seu manto175
Era encorpado e mórbido e púrpureo,
De alto lavor: nas anteriores patas
Um cão tinha tremente corçozinho,
E ávido o sufocava; elle a escapar-se
Com palpitantes pés se debatia:180
Foi pasmo a todos o recamo e a tela.
Notei-lhe ao corpo a túnica lustrosa,
Fina qual seca tona de cebola,
Alva imitante ao Sol, macia e leve,
Que espantava as melhores tecedeiras.185