Oh! futuro desdouro!» — A quem Antino:
«Tal não será, Eurímaco; reflete:
Hoje a festa celebra-se de Apolo,
Quem arco dobrará? depô-lo cumpre,
Inda que em pé deixemos as secures,190
Pois ninguém penso as tirará da sala.
Eia, escanção, de novo os copos vaza;
Larguemos nós libando, o arco e as setas
Traga cedo Melântio nédias cabras;
Ao Longe-vibrador queimando as coxas,195
A contenda amanhã terminaremos.»

Aplaudem-no. Água ás mãos arautos vertem;
As crateras coroando, em roda os moços
O vinho distribuem. Já perfeitas
As libações, manhoso o herói discursa:200
«Franco, dignos rivais, serei convosco;
A Eurímaco mormente me dirijo,
E ao régio Antino, que opinou cordato:
O arco repouse e confiai nos deuses;
A quem quer amanhã dê Febo a glória.205
Mas emprestai-mo, a ver se as forças tenho
Que outrora os membros fléxeis me animavam,
Ou se o mar e a desgraça as confrangiram.»

Indignaram-se os príncipes, temendo
Que elle o arco dobrasse, e Antino estoura:210
«Mísero! endoudeceste. Pouco julgas
Farto comer tranqüilo á nossa mesa,
Ouvir-nos praticar, vantagens que outro
Vagamundo ou mendigo nunca obteve?
Vinho ardente e melífluo te perturba,215
Como a quem nele imódico se encharca.
O vinho a Eurítion, Centauro insigne,
De Pirítoo magnânimo nos paços.
Inflamou contra os Lápitas; a injurias
Embriagado se moveu tamanhas,220
Que os heróis do vestíbulo o expulsaram,
Cerceando-lhe as ventas e as orelhas.
De alma chegada e leso, errando insano,
Aos Lápitas urdiu cruenta guerra,
E o vinho d’antemão lhe foi desastre.225