Retira-se a rainha, e pasma e guarda
O maduro discurso de seu filho.
Sobe com suas fâmulas, chorosa
Pelo marido caro, até que Palas
Sono doce nas pálpebras lhe entorna.270

O arco o divo porqueiro ia levando;
Mas rumor cresce imenso, e um deles brame
«Onde, abjeto porqueiro, esse arco levas?
A proteger-nos Febo e os outros numes,
Breve hão de nas pocilgas devorar-te275
Cães nutridos por ti, sem que te acudam.»

A arma depôs Eumeu todo assustado;
Minaz também Telemacho bradou-lhe:
«Avante, avante, a chusma não te embargue
Ou, posto que menor, eu te hei-de a pedras280
Ao campo repelir, que sou mais forte.
Assim tanto excedesse aos pretendentes,
Que destes paços os tivera expulso,
Onde exercem flagicios e torpezas.»
Ei-los a rir a cólera esqueceram.285

O arco o fiel pastor, por entre a sala,
Entrega a Ulysses, e á nutriz adverte:
«As servas manda, o príncipe te ordena,
Aferrolhar as portas; nem que sintam
Estrondo e ais, do seu lavor se bulam.»290
Executa Euricléia á risca e pronta.
Mudo Filétio furta-se; os cancelos
Do pátio fecha, e os liga de biblino
Cabo naval, que ao pórtico jazia,
E os olhos no senho, torna a seu posto.295

O arco o herói tenteia, e vira e indaga
Se de vermes roído estava o corno.
Um disse: «Admirador é certamente,
Será de arcos ladrão; possui em casa
Muitos iguais, ou fabrical-os busca:300
Destramente o meneia o vagabundo!»
Outro ajunta: «Bem haja, como agora
Tem de o vergar.» Zombando galrejavam.

Solerte enfim Ulysses o examina:
Qual estende perito citaredo305