Com nova chave do alaúde as cordas,
As torsas adaptando ouvinas tripas,
Fácil o atesa, a destra o nervo estira,
Que soou como chilro de andorinha.
De cor os procos doloridos mudam;310
Forte Jove troveja, e o divo Ulysses
Folga ao sinal: da mesa pega a nua
Leve seta, na aljava as outras sendo
Que hão de os Aqueus experimentar; sentado,
Embebe-a no arco, puxa o nervo e as barbas;315
Da mira não desvaira a brônzea frecha,
Das secures zunindo os furos passa.
Ao filho clama: «O hospede que abrigas
Não te desonra; o tiro foi certeiro
O arco tendi sem lida: hei sãs as forças,320
Cessem do vitupério estes senhores.
Hora é de preparar com dia e ceia;
Orne a lira o banquete, o canto o alegre.»

As sobrancelhas move: aguda espada
Eis Telemacho cinge, empunha a lança;325
Do pai senta-se ao pé, de bronze armado.

 

NOTAS AO LIVRO XXI

 

83 — O autor chama negro o Epiro; e eu conservo o adjetivo, sem poder contudo acertar com a razão. Uns dizem que negro se refere á cor do terreno, e equivale a fecundo; pensam outros que, passando os Epirotas por ásperos e rudes entre os antigos, toma-se aqui negro por tosco ou por quase bárbaro; alguns afirmam que o Epiro, visto de longe, por exemplo de Corfu, apresenta uma cor sobremodo escura. Não sei escolher.

123 — Resumi esta passagem, por ser a repetição dos versos 104-106 deste mesmo livro; e o advérbio também declara suficientemente que Liodes fez o mesmo que fizera Telemacho.

293-307 — O cabo era biblino ou de biblos, certa espécie de papiros; assemelhava-se ao que hoje tem o nome de cairo, que é a corda ou calabre da casca externa do coco. — Daqui se vê quão antigas são as cordas de tripa de carneiro para os instrumentos músicos.