Sobre aves, que tremendo alam-se ás nuvens;
Eles porém, folgando os campesinos,
Sem mais refúgio, alcançam devorá-las:
Assim de cabo a cabo a turba acossam,
Rompem, vulneram; mestos ais ressoam,230
E todo o pavimento em sangue ondeia.

Súbito abraça a Ulysses os joelhos
Suplicante Liodes: «Compassivo
Me sê, Laércio. Nunca obrei, nem disse
Cousa que as servas tuas ofendesse;235
Antes continha os socios, que emperrados
O mal purgaram já com morte feia.
Vate e inocente, padecer não devo:
Recompensa futura aos bons compete.»

Sombrio o rei troveja: «Eras seu vate,240
Longe me ansiavas dos queridos lares,
Ter de minha mulher quisestes filhos;
Trago amargo haverás.» E, erguendo a espada
Que ao morrer Agelau deixara em terra,
Com mão forte a Liodes, que ainda orava,245
A cabeça mutila e em pó lha envolve.

O Terpíades Fêmio, dos intrusos
Cantor coato, esquiva-se ao trespasso;
E, em punho a lira arguta, considera,
Á superior saída, se abrigar-se250
Na ara de Jove iria, onde o Laércio
E o pai queimaram coxas mil taurinas,
Se deitar-se-lhe aos pés: foi deste aviso.
Entre a cratera e a sede clavi-argêntea
Pondo o cavo instrumento, implora e estreita255
Os joelhos do herói: «Príncipe augusto,
Perdão! há de pesar-te se exterminas
Vate que humanos e imortaes celebra.
Eu doutrinei-me, o Céo me inspirou mesmo
Onígenas canções; posso entoar-tas,260
Qual a um deus: no meu sangue ah! não te manches.
Por indigencia não, teu filho o sabe,
Dos procos aos festins forçado vinha;
Tantos e mais potentes me obrigavam.»

Enérgico Telemacho: «Este insonte,265