De esbeltos jovens e de airosas moças.
Cruzam vozes da rua: «Algum de tantos
A rainha esposou, que mais valera
Se fiel ao marido os bens guardasse.»
Assim, néscios do caso, discorriam.110

Lava a cuidosa Eurínoma e perfuma
O brioso Laércio, e o paramenta.
Aformoseia-lhe a cabeça Palas;
Majestoso e maior, na espalda a coma
Cor de jacinto em ondas se lhe esparge;115
Tamanha graça lhe vestiu Minerva,
Quantia infunde em lavor de prata e ouro
Dela e Vulcano artífice amestrado.
Como um deus sai do banho, torna ao posto
Fronteiro ao da consorte, e assim perora:120
«Tão duro coração, femíneo monstro,
Nunca foi dos celícolas forjado!
Que outra mulher tão fria se portara
Ao chegar seu marido após vinte anos
De pena e dor? Sus, ama, um leito apresta,125
Quero dormir. Sua alma é toda ferro.»

«Monstro eu! retorque; nem te apouco altiva,
Nem me assombro demais: qual te embarcaste
No instruto galeão, me estás na mente.
Eia, fora da alcova alça, Euricléia,130
O reforçado leito, obra de Ulysses,
Com mantas e tosões, com moles colchas.»
Tal foi para o marido a prova extrema.

Ele á casta mulher gemendo exclama:
«Quem removeu-me o leito? oh! triste nova!135
Isso nímio custara ao mais sabido,
Salvo intervindo um nume; empresa enorme
Fora a humano qualquer, por mais viçoso:
Fi-lo eu sozinho; este sinal te baste.
Grossa como coluna, vegetava140
No pátio umbrosa e flórida oliveira:
Densas pedras em roda, em cima um teto,
Câmara edifiquei de unidas portas;
Já desgalhado, a bronze descasquei-lhe
Desde a raiz o tronco, e de esquadria145