me insteis, o meu lavor perdendo,
Sem que do herói Laertes a mortalha
Toda seja tecida, para quando
No sono longo o sopitar o fado:
Nenhuma Argiva exprobre-me um funéreo110
Manto rico não ter quem teve tanto. —
Esta desculpa ingênuos aceitamos.
Ela, um triênio, desmanchava á noite
Á luz da lâmpada o lavor diurno;
Ao depois, avisou-nos uma escrava,115
E a destecer a teia a surpreendemos:
Então viu-se obrigada a concluí-la,
E aos olhos despregou-nos a luzente
Obra insigne, imitante ao Sol e á Lua.
Não sei donde um mau gênio trouxe Ulysses120
Ao campo que habitava o guarda-porcos:
Nesses confins se reuniu seu filho,
Já da arenosa Pilos aportado;
E ambos, disposto o plano da matança,
Para a nobre cidade caminharam,125
O herói depois, Telemacho primeiro.
Eumeu guiava o pai, que abordoou-se
Em trajo de um decrépito mendigo,
E era tão roto e sujo e mal vestido,
Que aos mais idosos conservou-se ignoto.130
A golpes e baldões o acometemos;
Tudo curtiu paciente em seu palacio.
Mas, do Egíaco Jove espiritado,
As armas com Telemacho afastando,
Em cima as tranca, e pela astuta esposa135
O arco nos apresenta e o claro ferro,
Donde se derivou nosso infortúnio.
Nenhum de nós dobrou-lhe o forte nervo,
Baldo o esforço; e, ao momento que o Laércio
Dessa arma ia apossar-se, blasfemamos140
Que, apesar das instâncias, não lha dessem;
Mas Telemacho insiste, e o pai, seu arco
Fácil dobrando, enfia as machadinhas.
Ao limiar, derrama a pronta aljava,
E gira a vista horrendo e frecha Antino;145