A lutíferas setas rechinantes
(Um deus o protegia) uns após outros
Seu furor em cardumes nos prostrava:
Aos gemidos, aos botes, muge a casa
E se inunda em cruor. Tal fim tivemos!150
No pátio os corpos nossos, ora, Atrida,
Isso amigos não sabem, que chorando,
Enxuto o negro sangue, nos sepultem;
Honra devida aos míseros finados.»

Grita Agamemnon: «Venturoso Ulysses,155
Possuis mulher de uma virtude rara!
Do varão que pudica amou primeiro
Nunca olvidou-se; obtém perene glória,
Que hão de inspirados celebrar cantores.
Quão diversa a Tindárida ao marido,160
Que houve-a donzela! odiosa nas balatas
Será do povo, e nódoa ás mais sisudas.»

Enquanto as almas de Plutão conversam
No vácuo reino, Ulysses e companha
De Laertes entravam pelo enxido,165
Que a muito preço e lidas o comprara:
Tinha ali casa, e da varanda em roda
Os servos, com prazer cultivadores,
Comiam, repousavam; diligente
Do amo tratava, em rústico retiro,170
Sícula velha. Aos três voltou-se Ulysses:
«Preparai para o almoço um bom cevado.
Verei se o pai me reconhece ainda,
Ou se ignoto me faz tamanha ausencia.»

E as armas dando aos socios, que partiram,175
Ao pomar foi-se logo para o intento:
Não topa a Dólio e filhos e os mais servos
No grã vergel, do velho conduzidos
A colher espinheiros para sebes;
Só acha o pai no amanho de uma planta:180
Sórdida a capa e remendada a roupa,
Luvas grosseiras, borzeguins de coiro,
Para evitar esfoladuras, tinha;
Gorra caprina o luto lhe aumentava.
Desde que o divo sofredor o enxerga185