Dos anos e desgostos combalido,
Quedo pranteia á sombra de um pereiro;
Hesita se o abrace e o beije e informe,
Ou se antes com perguntas o exprimente.
Mordaz sondal-o preferindo, avança190
Quando, baixa a cabeça, elle de roda
Cavava um tronco, e lhe bradou: «Meu velho,
Não és inábil; a pereira, a vide,
A oliveira, a figueira, o estão mostrando,
Nem há palmo de terra sem cultura;195
Mas não te agastes, se o desleixo noto
Com que trapento afeias essa idade.
O amo não te maltrata pela incuria,
Nem tens servil presença; um rei no vulto
Semelhas ao que, já banhado, come200
Para em mole dormir, jus da velhice.
Mas de quem és? o prédio a quem pertence?
Em Ithaca em verdade agora estamos,
Como um certo em caminho asseverou-me?
Brusco foi-se e imprudente, sem dizer-me205
Se o meu hospede é vivo, ou se entre os manes.
Na patria, escuta, recebi festivo
O herói primeiro que a meu lar sentou-se:
De Ithaca era nativo, e se aclamava
Por filho do Arcebíades Laertes.210
Com bondade acolhi-o, e generoso
Dons hospitais lhe presentei condignos:
De ouro talentos sete bem cunhados,
Copa argêntea florida, capas doze,
Doze mantos louçãos, e iguais tapetes215
E túnicas iguais; por cima, á escolha,
Quatro prendadas e gentis mulheres.»

Em choro o pai: «Chegaste, forasteiro,
Á terra que me indicas, velhacouto
De malvados cruéis. Teus dons frustraste:220
Se elle aqui fosse, em câmbio encontrarias
Também dons e benévolo agasalho.
Sê franco, esse infeliz, que era meu filho,
Em que ano o recebeste?. .. Oh! fútil sonho!
Dos seus longe e da patria, no profundo225