Do mais suave que a tornada espera
Do infeliz nobre herói, se a morte o poupa,
Delas enche uma dúzia e arrolha todas;
Alqueires vinte em odres bem cosidos
Vaza de grãos de elaborada Ceres.270
Tudo arruma em segredo; á noite venho,
Mal Penélope a câmara procure.
A Esparta e a Pilos arenosa vou-me,
Do pai dileto a recolher noticias».

Clama Euricléia, debulhada em pranto275
«Filho, que insânia a tua! ires sozinho
Por esse mundo! É morto o grande Ulysses,
Ai! longe do seu ninho, em terra ignota:
Fica entre nós; para teus bens gozarem,
Se partes, eles te armarão ciladas;280
Ao cruel vago mar não te confies».

«Ama, responde o príncipe, sossega;
Isto não é sem deus. Jura á mãe cara
Onze dias ou doze encobrir tudo,
Salvo se o tenha ouvido ou queira ver-me:285
Não deforme chorando as faces belas».
Firma a velha um solene juramento,
E enquanto o vinho em ânforas transfunde
E despeja nos odres a farinha,
O jovem se reúne aos pretendentes.290

Mais excogita Palas: disfarçada
No régio garfo, as ruas percorrendo,
Incitava um por um a achar-se prestes,
Ao lusco e fusco, ante um baixel veleiro
Ao de Frômio pedido egrégio filho,295
Que o prometeu benévolo e previsto.
Obumbrava a cidade o Sol no ocaso:
Do porto á boca, a mesma Olhicerúlea,
Em nado posta a nau bem petrechada,
Congrega e exorta a pontual maruja.300
Depois anda ao palacio; os pretendentes
Entre o vapor do vinho em sono enleia,
Turba-os, das mãos os copos lhes sacode:
Eles para dormir, da mesa erguidos,
Carregadas as pálpebras, se espargem.305