Retoma a forma de Mentor a deusa,
Fora chama a Telemacho: «Nos bancos
Te aguardam prontos os grevados Gregos;
Não demoremos a partida, vamos.»

Já caminha, e Telemacho após ela.310
Chegados ao baixel, na praia encontram
Comantes nautas, a quem fala o moço:
«Os víveres, amigos, transportemos
Que hei no aposento: exceto uma cativa,
Nem minha mãe conhece este segredo.»315
Ei-los, colocam tudo na coberta:
Embarca o príncipe, adiante Palas,
Que a par o assenta á popa. Safam cabos
E abancam-se remeiros, bem que a deusa
Mande favonio Zéfiro, que aleia320
E encrespa o turvo ressonante pego.
A vozes de Telemacho, manobram:
De abeto o mastro levantado encaixam
Em sua base e o ligam de calabres,
Com táureas cordas brancas velas içam.325
Venta em cheio; a fremir, purpúreas vagas
O buco açoutam, que as retalha e voa.
Finda a mareação, do mais estreme
Em pé crateras coroando, libam
Aos imortaes, principalmente á prole330
De Júpiter Minerva, que da noite
Á nova aurora viajou com eles.

 

NOTAS AO LIVRO II

 

68-71 — Nesta passagem, usa Rochefort de estilo erótico alheio de Homero: Antino fala no tom do Pastor Fido ou da Marília de Dirceu. Apesar de ser Pindemonte um bom poeta, caiu no mesmo erro, na aparição dramática de Penélope no livro I, pondo-lhe na boca, não palavras convinhaveis ao conjugal amor daquela mãe de um filho de vinte anos, sim próprios da mais ardente mocidade. Amiúde, como sucede em outros lugares deste livro II, emprestam os tradutores aos seus quadros cores modernas mal assentes, por mero enfeite. Ora, pode-se uma ou outra vez ornar o pensamento, contanto que não se