E orou sisudo: «Cidadãos e amigos,
Do feito a culpa tendes; não quisestes,
Surdos aos de Mentor e aos meus conselhos,
Flagicio enorme sopear dos filhos,
Que, os bens roendo, injuriando a esposa,350
Com tão potente rei já não contavam.
É sem remédio. Ouvi-me agora ao menos:
Mores desastres atalhai, não vamos.»

A assembléia divide-se em tumulto:
Uns de Haliterse á voz se aquietaram;355
Mas outros, ao combate persuadidos,
Em corpo avançam, reluzindo em bronze,
Por vastas ruas, de Eupiteu sequazes,
Que cego ou desagravo ou morte anela.

Consulta ao pai Minerva: «Ó soberano,360
Que tens na mente? Guerra ou congraçal-os?»
E o Nubícogo: «Filha, que perguntas?
Não traçaste que á volta se vingasse?
Pois bem. Direi contudo o que é decente:
Vingado o herói divino, assente as pazes;365
Reine em povos leais; de irmãos e filhos
O castigo apaguemos sanguinoso;
Renove-se a amizade, haja abundância.»
Disse, o ardor a Minerva acrescentando,
Que do jugoso Olympo se arremessa.370

Apaziguada a fome, aos companheiros
Adverte Ulysses: «Veja alguém se perto
Já nos atacam.» Sai de Dólio um filho,
E enxerga logo da soleira a turba:
«Arma, arma, grita, a gente se aproxima.»375
Armam-se os quatro, e os seis irmãos com eles;
E Laertes e Dólio, encanecidos,
No perigo urgentissimo se arnesam.
De ponto em branco, as portas escancaram,
Precipitam-se fora, e os manda Ulysses;380
Disfarçada em Mentor, veio amparal-os
A Tritônia, de Jove augusta prole.

Ledo o chefe do auxilio: «Hoje, meu caro
Telemacho, aos mais fortes investindo,
Mostres brio e vigor; nem me envergonhes,385