abuse da licença, e o ornato seja no gosto do autor; e, se tal se permitte, é por uma espécie de compensação, visto que em não poucas ocasiões deixa o tradutor forçosamente de passar com a mesma gala muitas expressões do original. A simplicidade homérica é um grande escolho para nós outros.

118-174 — Éu phroneon tomam alguns na acepção de prudente: Homero, penso, diz que Haliterse falou contente, por ver que as águias reforçavam o seu antigo prognóstico. — No verso 150, trato só da virtude, não da beleza de Penélope, como alguns acrescentaram, contra a precisão do texto: refiro-me á nota antecedente. — Com M. Giguet, tenho que o verso 169 não é Laertes; é Mentor, que, menos idoso, encarregou-se da família na ausencia do herói. — O 174 é o enérgico e belissimo verso de Ferreira na carta primeira, o qual orna o pensamento sem fugir do estilo simples do poeta grego.

219-244 — Chama-se aqui a farinha ou o pão medula dos varões: não quis eu esfriar esta expressão com um equivalente; o mesmo praticou M. Giguet, em prosa e numa lingua menos ousada. — O Reia do 322 do original, verti-o á letra por fácil: parece-me que no seu advérbio indica o autor a força do braço de Telemacho, de bom agouro para o futuro. Este belo toque de mestre é como o de Virgilio, que no verso 652 do livro VII só no advérbio nequidquam aponta a morte futura de Lauso. Muitos não fizeram caso algum desta passagem, mas Rochefort acertou, bem que a sua versão, longa e prolixa, pareça antes uma explanação do texto. — Ondicercada, no meu verso 221, imitado do italiano, é o mesmo que circúnflua, adjetivo já da nossa lingua, do qual falei anteriormente.