E as serventes a ela ambrosia e néctar.
Saciados ambos, começou Calypso:
«Voltar queres, astuto, em breve aos lares?
Embora, adeus. Se as penas antevisses
Que te aguardam, comigo em laço estreito150
Imortal ficarias, bem que aneles
Tua esposa abraçar, cuja lembrança
Te rala de contino; em garbo e talhe
A sobrelevo; que as mortaes não podem
Comparar-se em beleza ás divindades.»155

Ulysses respondeu: «Sublime deusa,
Não te agraves portanto; eu sei que em tudo
A prudente Penélope transcendes,
Nem da morte és escrava ou da velhice;
Mas para os lares meus partir suspiro.160
Se um deus me empece, como os já passados,
Suportarei constante os outros males.»

Cai a noturna treva: ambos num leito
No amor se deliciam. Na alvorada,
Uma túnica e um manto Ulysses veste;165
Veste a nympha um sendal cândido e fino,
Faixa de ouro gentil ata á cintura,
Orna a cabeça de elegante coifa.
A despedir o amante resignada,
Érea forte bipene lhe fornece170
De oleagíneo cabo artificioso,
Enxó dá-lhe amolada; aos fins o leva
Da ilha, onde medram árvores gigantes,
Choupo, alno, abeto e percutir as nuvens,
Secos e aptos a vencer caminho:175
Depois que a selva mostra, á casa torna.
Ardente elle derruba troncos vinte,
Falca, desbasta, esquadra, alisa e talha.
Com trados volta a nympha; o herói verruma,
Cavilha, junta as peças: quanto é largo180
De nau de carga o bojo, obra de mestre,
Era a barca de Ulysses. Finca espeques,
Pranchas estiva, um tabulado forma;
Antena ao mastro anexa; mune o leme,
Contra escarcéos, com vergas de salgueiro;185