Alastram-na pesados lígneos toros.
De lona, por Calypso oferecida,
Vela engenha, e de escotas e calabres
O mastro apruma; enfim, sobre alavancas,
A jangada escorrega ao mar divino.190
Ao quarto Sol perfeito o seu trabalho,
Por despedida ao quinto a nympha o lava,
Perfuma e veste; o vinho em odre fecha,
Num maior água, em saco os acepipes,
O sustento em surrão; tépidas auras,195
Meigas invoca. O pano o divo Ulysses
Contente expande, lesto agita o leme;
Cortado o sono, as Plêiadas observa,
Tardo Bootes, a Carreta ou Ursa
Em Órion sempre fita ao revolver-se200
A só que foge os banhos do Oceano:
Ir desta á esquerda lhe ordenou Calypso
Dias vários navega, até que enxerga,
Já no décimo oitavo, umbroso topes
Da mais vizinha terra, a dos Feaces,205
Qual pavês a ondear no escuro pego.

Vem da Etiópia e dos Sólimos serros
Neptuno o avista; sacudindo a fronte,
Em si raiva: «Ah! que dele dispuseram
Na minha ausencia os deuses! Quase tocas210
Onde, Laércio, é fado os males findes;
Mas nem todos provaste». Eis move o cetro;
Procelas concitando, altera as ondas,
A praia e o mar enfusca, assola os ventos;
A noite rui do céo; muge Euro, Noto,215
Bóreas árido, Zéfiro insolente.
No peito esmorecido o herói murmura:
«Ai de mim! temo o anúncio de Calypso,
Que á patria eu chegaria atormentado.
Jove de que bulcões enluta os ares!220
Que lufadas, que brenhas, que borrascas!
Presente o exicio tenho. Oh! três e quatro
Vezes ditosos os que em Tróia sacra
Por amor dos Atridas feneceram!
Acabasse eu na hora em que êneas lanças225