PALAVRAS NECESSARIAS seu olvido. De modo que se fazia mistér um gesto do poder publico, restaurando, para a admiração nacional, as dezenas de livros notaveis em que os maranhenses fixaram as imagens do seu espirito creador, como poetas ou, como estudiosos, a segurança da sua erudição.

Comprehendeu essa necessidade, no anno corrente, o Congresso Maranhense, por suggestão do Presidente do Estado, o Sr. Commandante José Maria Magalhães de Almeida. Louvar, aqui, essa lembrança patriotica e generosa, consubstanciada en acto official, é gesto desnecessario. Espalhada a noticia d’elle por todo o paiz, não houve homem intelligente que o não louvasse, commovido. E se outros louvores faltassem, bastaria, para consagrar a sua benemerencia, a attitude da Academia Brasileira de Letras, onde se ergueram no mesmo dia, requerendo, em nome das letras nacionaes, um voto de applauso e de gratidão ao Presidente maranhense, os Srs. Coelho Netto e Alberto de Oliveira, que são, como se sabe, no Brasil, o maior prosador e o maior poeta do seu tempo.

 
 

A inauguração da Bibliotheca de Escriptores Maranhenses com a Odysséa, de Homero, vertida em verso portuguez por Manuel Odorico Mendes, não constitue uma preferencia especial: determina essa escôlha a circumstancia de tratar-se de trabalho inédito, cujos originaes se achavam, desde alguns annos, em poder do governo do Maranhão.

Latinista e hellenista á maneira de Larcher, o qual, na expressão de um dos seus biographos, lia grego todos os dias e, ás sextas feiras, por penitencia, se réduisait au vil latin, Odorico traduziu para o portuguez, na linguagem mais castigada, os mais altos monumentos das duas grandes literaturas antigas. A Eneida, de Vergilio, publicou-a o erudito maranhense em 1854. Reeditando-a em 1858, juntou-lhe as Georgicas e as Bucolicas, enriquecidas de preciosas annotações. Victorioso sobre as difficuldades do verso latino, emprehendeu, então, a traducção de Homero, primeiro com a Iliada, depois com a Odyssea.