Que homem sisudo nunca mais te argua.
Ouve-me, outra impressão de nós conserves,
Para, ao festim com tua esposa e filhos,
Contares aos heróis quais prendas Jove
Desde avós nos transmite: em luta e cesto190
Não somos extremados, sim ligeiros
E na marinha exímios; o banquete
Nos praz, coréia e música, a mudança
De vestidos, bom leito e quentes banhos.
Bailai vós, peritissimos Feaces;195
O hospede narre aos seus quanto excelemos
Em navegar, em pés, em dança, em canto.
Corra alguém, e a Demôdoco da regia
Depressa traga a cítara sonora.»

Pontono corre. Os públicios do circo200
Nove eleitos juizes, levantados,
O lugar aplanando, o espaço alargam.
O arauto volta; a cítara o poeta
Recebe, a quem na arena adolescentes
Cercam destros e airosos, em cadencia205
Pulsando o chão divino: absorto Ulysses
O enredo, o passo, a rapidez contempla.

Demôdoco depois dedilha e canta
Como furtiva a coroada Vênus
Uniu-se a Marte, que o Vulcânio toro210
Maculou com mil dons peitando a esposa.
Pelo Sol advertido, o grão ferreiro
Parte, vingança a meditar profundo;
No cepo encava a incude, laços forja
Que desdar-se não podem nem romper-se.215
Mal os conclui, á câmara caminha
Do seu leito amoroso; uns aos pés liga,
Outros ao sobrecéo, com tanta insídia,
Que de aranha sutil quais teias eram,
Mas a qualquer celícola invisíveis.220
Armada a fraude, simulou viagem
De Lemos á carissima cidade.
Marte, cujos frisões têm freios de ouro,
Não obcecado, o fabro viu partindo;
Veio-lhe presto á casa, cobiçoso225