De gozar Vênus bela: esta pousava
De visitar o genitor Satúrnio;
Pega-lhe o amante na mimosa destra:
«Vazia a cama está; Vulcano é fora,
Aos Síntios foi-se de linguagem bronca.»230

Ei-los ao leito jubilando ascendem,
E nas malhas do artista se emaranham;
Nem desatar-se nem mover-se podem,
Sem ter efúgio algum. Torna Vulcano,
Antes que a Lemos chegue; o Sol o avisa.235
Ao seu pórtico pára angustiado,
Urro esforça raivoso, que no Olympo
Retumba horrendo: «Ó Padre, ó vós deidades,
Vinde rir e indignar-vos desta infâmia.

Por coxo a Dial Vênus me desonra,240
Amando ao sevo Marte, que é perfeito:
Se esta iesão me afeia, é toda a culpa
De meus pais, que gerar-me não deviam.
Vêde-os, oh! triste aspecto como dormem
No meu leito enleados; mas duvido245
Que em seu ardor jazer assim desejem.
Meu laço os reterá, té que haja o dote
E os dons feitos ao pai, que deu-me a filha
De formosura exemplo e de inconstância.»

No éreo paço Vulcânio já Neptuno,250
Mais o frecheiro Febo e o deus do ganho,
As deusas de pudor não comparecem;
Do pórtico os demais, ás gargalhadas,
O dolo observam do prudente mestre,
Olham-se e clamam: «Da virtude o vicio,255
Do inferno o lesto e forte é suplantado;
O manco aos mais veloz prendeu com arte,
Pague o adúlterio a multa.» Apolo ao núncio
De bens dador voltou-se: «Quererias,
Filho de Jove, assim dormir nos braços260
Da áurea Ciprina?» Respondeu Mercurio:
«Oxalá, Febo Apolo, ao pé de Vênus
Vós me vísseis dormir, e as próprias deusas,
No tresdôbro dos fios envolvido.»

Renovou-se a risada; mas Neptuno265