Longo há fora dos teus, hospede, os numes
Restituam-te á patria e á mulher cara.»

«Salve, Ulysses responde, e sê ditoso.
Nunca, jovem amigo, a falta sintas
Do presente que afavel me concedes.»310
Aceita e cinge a espada claviargêntea.

O Sol transmonta, e as dádivas afluem
Que ao real paço arautos conduziam;
De Alcino os filhos as recebem logo
E á mãe vão reverentes presentá-las;315
O pai á casa os principais convida,
Senta-os em tronos, volve-se á rainha:
«Traze, mulher, tua arca a mais luzente,
Boa túnica e um manto; ao lume aqueçam
Caldeira para banho. Ele gozoso320
Os dons remire dos heróis Feaces,
Divirta-se ao banquete e os hinos logre.
Dou-lhe em memória uma áurea fina taça,
Por onde libe á Jove e á corte sua.»

Ela ordena; uma trípode as escravas325
Põem ao fogo e por baixo lenha acendem;
A água, lambendo a labareda o bojo,
Ferve em caixões... N’arca louçã, que trouxe,
Dos Feaces a roupa e o ouro mete,
Mais a túnica e o manto: «A tampa, adverte,330
Hospede, esguarda; em nó seguro a feches,
Para ninguém lesar-te na viagem,
Quando em ferrado sono a bordo pegues.»

Na tampa o cauto herói passa um nó firme,
Invenção da engenhosa augusta Circe.335
Da caseira a banhar-se convidado,
Entra a prazer em tina de água morna;
Pois tamanha delicia não gozava,
Dês que a ilha deixara de Calypso,
Onde elle como um nume era tratado.340
Lavam-no, ungido vestem-lhe as escravas
Túnica e manto, e sai para entre os cabos
Vinhos saborear. Então Nausica,
Beleza divinal, chega á soleira
Da magnífica sala; atenta Ulysses,345