Sério ao mestre pediu que solte a Marte:
«Solta-o; prometo que a teu grado e á risca
Hajas a multa aos imortaes devida.»
«Rei, contesta o aleijado, não mo ordenes;
A caução para o fraco é fraca sempre:270
Como eu te obrigaria, se elle escapo
Se recusasse?» Então Neptuno: «Marte
Se renuir, pagar-te-ei, Vulcano.»

Rende-se o ínclito coxo: «Não me é dado
Negar-to.» E os laços desliou de um toque.275
Os réos fugiram: para a Trácia, Marte;
Para Pafos Ciprina, a mãe dos risos,
Que ali tem bosque e recendentes aras.
Banhada em óleo divinal ungida,
As Graças do mais fino a paramentam.280

Ulysses da harmonia se recreia,
E a gente em roda. Alcino bailar manda
Laodamas e Hálios sós, que a palma levam:
Um, curvo atrás, ás nuvens roxa pela,
Que fez Pólibo, alteia, e outro, a pulo,285
Antes que aos pés lhe caia, a encontra e joga;
A alma terra ao depois, tripudiando,
Alternos batem, com geral aplauso.
O estrépito sossega, e Ulysses fala:
«Bem gabaste na dança os teus Feaces;290
Estou, potente rei, maravilhado.»

Alegre Alcino: «Príncipes, decerto
É sábio e dons merece. Há cabos doze,
E eu treze: cada qual brinde-lhe um manto
Rico e túnica nova e áureo talento,295
E junto obtenha tudo e á ceia folgue;
A injuria apague Euríalo e o congrace
Com palavras e dádivas» — De grado
Seu próprio arauto unânimes despacham,
E Euríalo obedece: «De vontade300
Quero aplacal-o, ó maioral dos povos;
Haja esta brônzea espada com bainha
De recente marfim e argênteos punhos,
Digna dele.» E ao passá-la: «Ó veneravel,
Espalhe o vento irrefletidas vozes.305