Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/214

188
ORIGEM DAS ESPÉCIES

desta asserção, é que os homens de diferentes raças admiram, nas mulheres, um tipo de beleza absolutamente diferente. Se os belos objectos fossem apenas criados para agradar ao homem, seria necessário demonstrar que havia menos beleza sobre a Terra antes que o homem tivesse aparecido em cena. As admiráveis volutas e os cones da época eocénia, os amonitas tão elegantemente esculpidos, do período secundário, foram criados para que o homem pudesse, após milhares de séculos mais tarde, admirá-los nos seus museus? Há poucos objectos tão admiráveis como os delicados invólucros siliciosos das diatomáceas; foram, pois, criados para que o homem possa examiná-los e admirá-los servindo-se dos mais fortes aumentos do microscópio? Neste último caso, como em muitos outros, a beleza depende por completo da simetria de crescimento. Colocam-se as flores no número das mais belas produções da natureza; mas tornaram-se brilhantes, e, por consequência, belas, para fazer contraste com as folhas verdes, de forma que os insectos possam distingui-las fàcilmente. Cheguei a esta conclusão, porque encontrei, como regra invariável, que as flores fecundadas pelo vento, não têm jamais uma corola revestida de brilhantes cores. Diversas plantas produzem ordinàriamente duas espécies de flores: umas abertas e com cores brilhantes de forma a atrair os insectos, outras fechadas, incolores, privadas de néctar, e que os insectos nunca visitam. Podíamos concluir que, se os insectos se não tivessem desenvolvido à superfície da terra, as nossas plantas não estariam cobertas de flores admiráveis e apenas teriam produzido as tristes flores que vemos nos pinheiros, nos carvalhos, nas nogueiras, nos freixos, nas gramíneas, nos espinafres, nas urtigas, que são todas fecundadas pela acção do vento. O mesmo raciocínio pode aplicar-se aos frutos; todos admitem que um morango ou uma cereja bem madura é tão agradável à vista como ao paladar; que os frutos vivamente coloridos do psilo e as bagas escarlates do azevinho são admiráveis objectos. Mas esta beleza não tem outro fim que não seja atrair as aves e os insectos, para que devorando os frutos disseminem as sementes; observei, com efeito, e não há excepção a esta regra, que as sementes são sempre assim disseminadas quando são envolvidas de um fruto qualquer (isto é, quando estão encerradas numa massa carnuda) com a condição de que este fruto tenha uma coloração brilhante ou que seja muito aparente porque é branco ou negro.

Demais, admito de bom grado que um grande número de animais machos, tais como todas as nossas aves mais magníficas, alguns répteis, alguns mamíferos, e uma série de borbo-