LUTA PELA EXISTÊNCIA
67

de árvores, porque se não tinha feito cultura alguma nesta terra; contentaram-se em fechá-la, de maneira que o gado não pudesse entrar. É verdade que o cerrado é também um elemento muito importante de que pude observar os efeitos junto de Farnham, no condado de Surrey. Aí se encontram extensas propriedades plantadas aqui e ali, no vértice das colinas, de alguns grupos de velhos pinheiros da Escócia; durante estes dez últimos anos, têm fechado algumas destas quintas, e hoje aparecem em todas as partes novos pinheiros em quantidade, nascidos naturalmente, e tão aproximados uns dos outros, que não podem viver todos. Quando soube que estas árvores novas não tinham sido nem semeadas nem plantadas, fiquei de tal maneira surpreendido, que me dirigi a diversos pontos de onde podia abranger com a vista centenas de hectares de propriedades que não estavam fechadas; pois nada pude descobrir a mais que as velhas árvores. Examinando com mais cuidado o estado da charneca, descobri uma grande quantidade de pequenas plantas que tinham sido roídas pelos animais. No espaço de um só metro quadrado, a uma distância de algumas centenas de metros de uma das velhas árvores, contei trinta e duas plantas novas; uma delas tinha vinte e seis anéis; tinha pois tentado, durante muitos anos, levantar a curuta acima das urzes, e não o conseguira. Não admira, pois, que o solo se cubra de novos pinheiros vigorosos desde que os cerrados foram estabelecidos. E, contudo, estas charnecas são tão estéreis e tão extensas, que ninguém poderia imaginar que os animais pudessem aí encontrar alimentos.

Vemos aqui que a existência do pinheiro da Escócia depende absolutamente da presença ou da ausência dos animais; em algumas partes do mundo, a existência do gado depende de certos insectos. O Paraguai oferece talvez o mais frisante exemplo deste facto; neste país nem os animais silvestres, nem os cavalos, nem os cães voltaram ao estado selvagem, bem pelo contrário se têm produzido em grande escala nas regiões situadas ao norte e ao sul. Azara e Rengger demonstraram que deve atribuir-se este facto à existência no Paraguai de uma certa mosca que põe os ovos nas ventas desses animais logo depois do nascimento. Por mais numerosas que sejam estas moscas, a sua multiplicação deve ser ordinàriamente embaraçada por qualquer obstáculo, provavelmente pelo desenvolvimento de outros insectos parasitas. Por isso, se certas aves insectívoras diminuíssem no Paraguai, os insectos parasitas aumentariam decerto em número, o que traria a desaparição das moscas, e então os animais silvestres e os cavalos voltariam ao estado selvagem, o que teria como resultado seguro modificar considerà-