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OS MAIAS

de Madrid, se poude descobrir a «toca da fera» como disia então o Villaça. Ambos decerto tinham mudado de nome; e, dadas essas naturezas bohemias, quem sabe se não errariam agora pela America, pela India, em regiões mais exoticas? Depois, pouco a pouco, Affonso da Maia descorçoado com aquelles esforços vãos, todo occupado do neto que crescia bello e forte ao seu lado, no enternecimento continuo que elle lhe dava foi esquecendo a Monforte e a sua outra neta, tão distante, tão vaga, a quem ignorava as feições, de quem mal sabia o nome. E agora de repente a Monforte apparecia outra vez em Paris! e o seu pobre Pedro estava morto! e aquella creança que dormia ao fundo do corredor nunca vira sua mãe...

Erguera-se, passeiava na livraria, pesado e lento, com a cabeça baixa. Junto á mesa, ao pé do candieiro, o Villaça ia percorrendo um a um os papeis da sua carteira.

— ­E está em Paris com o italiano? perguntou Affonso do fundo sombrio do aposento.

O Villaça ergueu a cabeça de sobre a carteira, e disse:

— ­Não senhor, está com quem lhe paga.

E como Affonso se aproximava da mesa, sem uma palavra, Villaça, dando-lhe um papel dobrado, accrescentou:

— ­Todas estas cousas são muito graves, sr. Affonso da Maia, e eu não quiz fiar-me só na minha memoria. Por isso pedi ao Alencar, que é um excellente rapaz, que me escrevesse n’uma carta tudo o que