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OS MAIAS

que, de repente, Villaça se sentira muito suffocado, e com tonturas: ainda tivera forças d’ir ao quarto respirar um pouco d’ether: mas ao voltar á sala cambaleava, queixava-se de vêr tudo amarello, e caiu de bruços, como um fardo, sobre o canapé. O seu pensamento, que se extinguia para sempre, ainda n’esse momento se occupou da casa que ha trinta annos administrava: balbuciou, a respeito d’uma venda de cortiça, recomendações que o filho já não poude perceber: depois deu um grande ai; e só tornou a abrir os olhos, para murmurar no derradeiro sopro estas derradeiras palavras: Saudades ao patrão!

Affonso da Maia ficou profundamente afectado, e em S.ta Olavia, mesmo entre os creados, a morte de Villaça foi como um lucto domestico. Uma d’essas tardes, o velho, muito melancolico, estava na livraria com um jornal esquecido nas mãos, os olhos cerrados — ­quando Carlos, que ao lado rabiscava carantonhas n’um papel, veio passar-lhe um braço pelo pescoço, e como comprehendendo os seus pensamentos perguntou-lhe se o Villaça não voltaria a vel-os à quinta.

— ­Não filho, nunca mais. Nunca mais o tornamos a vêr.

O pequeno, entre os joelhos e os braços do velho, olhava o tapete, e, como recordando-se, murmurou tristemente:

— ­O Villaça, coitado... Dava estalinhos com os dedos... Oh vovô, para onde o levaram?

— ­Para o cemiterio, filho, para debaixo da terra.