grande João da Ega, a quem Affonso da Maia se affeiçoára muito, por elle e pela sua originalidade, e por ser sobrinho d’André da Ega, velho amigo da sua mocidade e, muitas vezes outr’ora, hospede tambem em Santa Olavia.
Ega andava-se formando em Direito, mas devagar, muito pausadamente — ora reprovado, ora perdendo o anno. Sua mãi, rica, viuva e beata, retirada n’uma quinta ao pé de Celorico de Basto com uma filha, beata, viuva e rica tambem, tinha apenas uma noção vaga do que o Joãozinho fizera, todo esse tempo, em Coimbra. O capellão affirmava-lhe que tudo havia de acabar a contento, e que o menino seria um dia doutor como o papá e como o titi: e esta promessa bastava á boa senhora, que se occupava sobretudo da sua doença de entranhas e dos confortos d’esse padre Seraphim. Estimava mesmo que o filho estivesse em Coimbra, ou algures, longe da quinta, que elle escandalisava com a sua irreligião e as suas facecias hereticas.
João da Ega, com effeito, era considerado não só em Celorico, mas tambem na Academia que elle espantava pela audacia e pelos ditos, como o maior atheu, o maior demagogo, que jámais apparecera nas sociedades humanas. Isto lisonjeava-o: por systema exagerou o seu odio á Divindade, e a toda a Ordem social: queria o massacre das classes-médias, o amor livre das ficções do matrimonio, a repartição das terras, o culto de Satanaz. O esforço da intelligencia n’este sentido terminou por lhe influenciar as maneiras e a physionomia; e, com a