OS MAIAS
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Até tarde, sob as arvores do quintal, na sala atulhada de pilhas de pratos, os criados correram com salvas de dôce, não cessou d’estalar o champagne. E Villaça, limpando a testa, o pescoço, abafado de calor, ia dizendo a um, a outro, a si mesmo tambem:

— ­Grande coisa, ter um curso!

E então Carlos Eduardo partira para a sua longa viagem pela Europa. Um anno passou. Chegára esse outono de 1875: e o avô installado emfim no Ramalhete esperava por elle anciosamente. A ultima carta de Carlos viera de Inglaterra, onde andava, dizia elle, a estudar a admiravel organisação dos hospitaes de crianças. Assim era: mas passeava tambem por Brighton, apostava nas corridas de Goodwood, fazia um idyllio errante pelos lagos da Escocia, com uma senhora hollandeza, separada de seu marido, veneravel magistrado da Haya, uma M.me Rughel, soberba creatura de cabellos d’ouro fulvo, grande e branca como uma nympha de Rubens.

Depois começaram a chegar, dirigidas ao Ramalhete, caixas successivas de livros, outras de instrumentos e apparelhos, toda uma bibliotheca e todo um laboratorio — ­que trazia o Villaça, manhãs inteiras, aturdido pelos armazens da alfandega.

— ­O meu rapaz vem com grandes idéas de trabalho, dizia Affonso aos amigos.