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OS MAIAS

Havia quatorze mezes que elle o não via, o «seu rapaz», a não ser n’uma photographia mandada de Milão, em que todos o acharam magro e triste. E o coração batia-lhe forte, na linda manhã de outono, quando do terraço do Ramalhete, de binoculo na mão, viu assomar vagarosamente, por traz do alto predio fronteiro, um grande paquete do Royal Mail que, lhe trazia o seu neto.

Á noite os amigos da casa, o velho Sequeira, D. Diogo Coutinho, o Villaça — ­não se fartavam d’admirar «o bem que a viagem fizera a Carlos». Que differença da photographia! Que forte, que saudavel!

Era decerto um formoso e magnifico moço, alto, bem feito, de hombros largos, com uma testa de marmore sob os anneis dos cabellos pretos, e os olhos dos Maias, aquelles irresistiveis olhos do pai, de um negro liquido, ternos como os d’elle e mais graves. Trazia a barba toda, muito fina, castanho-escura, rente na face, aguçada no queixo — ­o que lhe dava, com o bonito bigode arqueado aos cantos da boca, uma physionomia de bello cavalleiro da Renascença. E o avô, cujo olhar risonho e humido transbordava d’emoção, todo se orgulhava de o vêr, de o ouvir, n’uma larga veia, fallando da viagem, dos bellos dias de Roma, do seu mau humor na Prussia, da originalidade de Moscow, das paizagens da Hollanda...

— ­E agora? perguntou-lhe o Sequeira, depois de um momento de silencio em que Carlos estivera bebendo o