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OS MAIAS

— ­É necessario carregar no punch, hein, general! — ­exclamou Carlos, batendo galhofeiramente nos hombros macissos do Sequeira.

— ­Não me opponho, rosnou o outro, que fixava com concentração e rancor um valete de copas sobre a meza.

Carlos, ainda com frio, remexeu, esfuracou os carvões: uma chuva d’oiro cahiu por baixo, uma chamma mais forte ressaltou, rugiu, alegrando tudo, avermelhando em redor as pelles de urso onde o Reverendo Bonifacio, espapado, torrava ao calor, ronronava de gôso.

— ­O Ega deve estar radiante, dizia Carlos com os pés á chamma. Tem, emfim, justificada a pellissa. A proposito, algum dos senhores tem visto o Ega estes ultimos dias?

Ninguem respondeu, no interesse subito que causava a cartada. A longa mão de D. Diogo recolhia de vagar a vasa — ­e languidamente, no mesmo silencio, soltou uma carta de paus.

— ­Ó Diogo! ó Diogo! gritou Affonso, estorcendo-se, como se o trespassasse um ferro.

Mas conteve-se. O general, cujos olhos despediam faiscas, collocou o seu valete; Affonso, profundamente infeliz, separou-se do rei de paus; Villaça bateu de estalo com o az. E immediatamente foi em redor uma discussão tremenda sobre a puchada de D. Diogo — ­em quanto Carlos, a quem as cartas sempre enfastiavam, se debruçava a coçar o ventre fofo do veneravel Reverendo.