OS MAIAS
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enterradas nos bolsos — ­tão funebre que tudo n’elle parecia complemento do luto pesado, até o preto do cabello chato, até o preto das lunetas de fumo. Junto ao bilhar, o parceiro do marquez, o conde Steinbroken, esperava: e apesar do susto, da emoção d’homem do norte aferrado ao dinheiro, conservava-se correcto, encostado ao taco, sorrindo, sem desmanchar a sua linha britanica, — ­vestido como um inglez, inglez tradicional d’estampa, com uma sobrecasaca justa de manga um pouco curta, e largas calças de xadrez sobre sapatões de tacão raso.

— ­Hurrah! gritou de repente Cruges. Os dez tostõesinhos para cá, Silveirinha!

O marquez carambolára, ganhando a partida, e triumphava tambem:

— ­Você trouxe-me a sorte, Carlos!

Steinbroken depozera logo o taco, e alinhava já sobre a tabella, lentamente, uma a uma, as quatro placas perdidas.

Mas o marquez, de giz na mão, reclamava-o para outras refregas, esfaimado d’ouro filandez.

— ­Nada mach!... Vôcê hoje ’stá têrivêl! dizia o diplomata, no seu portuguez fluente, mas de accento barbaro.

O marquez insistia, plantado diante d’elle, de taco ao hombro como uma vara de campino, dominando-o com a sua macissa, desempenada estatura. E ameaçava-o de destinos medonhos n’uma voz possante habituada a ressoar nas lezirias; queria-o arruinar ao bilhar, forçal-o a empenhar aquelles bellos anneis,