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OS MAIAS

leval-o elle, ministro da Filandia e representante d’uma raça de reis fortes, a vender senhas á porta da Rua dos Condes!

Todos riam; e Steinbroken tambem, mas com um riso franzido e difficil, fixando no marquez o olhar azul-claro, claro e frio, que tinha no fundo da sua myopia a dureza d’um metal. Apesar da sua sympathia pela illustre casa de Souzella, achava estas familiaridades, estas tremendas chalaças, incompativeis com a sua dignidade e com a dignidade da Filandia. O marquez, porém, coração d’ouro, abraçava-o já pela cinta, com expansão:

— ­Então se não quereis mais bilhar, um bocadinho de canto, Steinbroken amigo!

A isto o ministro accedeu, affavel, preparando-se logo, dando caricias ligeiras ás suissas, e aos anneis do cabello d’um loiro de espiga desbotada.

Todos os Steinbrokens, de paes a filhos (como elle dissera a Affonso) eram bons barytonos: e isso trouxera á familia não poucos proventos sociaes. Pela voz captivara seu pae o velho rei Rudolpho III, que o fizera chefe das caudelarias, e o tinha noites inteiras nos seus quartos, ao piano, cantando psalmos lutheranos, coraes escolares, sagas da Dallecarlia — ­em quanto o taciturno monarcha cachimbava e bebia, até que saturado de emoção religiosa, saturado de cerveja preta, tombava do sophá, soluçando e babando-se. Elle mesmo, Steinbroken, levara parte da sua carreira ao piano, já como addido, já como segundo secretario. Feito chefe de missão, absteve-se: